Após 27 anos desde a última participação nos campeonatos distritais de seniores da A.F. Setúbal, o Clube Recreio e Instrução voltou em 2024/25.
O treinador desta nova fase do Clube é Nelson Bento, que pretendemos apresentar e a quem pedimos também para nos fazer o balanço da 1ª volta e intenções para o futuro.
- Como tem sido o seu trajeto até aqui?
O meu trajeto desportivo já leva uns aninhos, sou federado consecutivamente desde a época1988/1989.
Comecei no Futebol Clube Barreirense com 12 anos fazendo parte da primeira equipa de infantis do clube, e por lá estive toda a minha formação (aqui aprendi o que é preciso em termos de compromisso e espirito de grupo), até completar a minha primeira época no plantel sénior na antiga Divisão Honra.
Após isso passei para o antigo futebol de Salão e fui para o 1º Maio Barreiro (primeiro clube português a ser campeão europeu na vertente pavilhão), local onde fui bastante feliz e onde além de muitos títulos e conquistas desportivas, criei laços para a vida pois aprendi que mais do que um grupo de jogadores de topo, o espirito de equipa ultrapassa tudo e isso ajudou muito a ser quem sou hoje no desporto. Com a extinção desta vertente passei para o futsal onde representei clubes como o 1º de Maio do Barreiro, Luso F.C., Independentes Sines, GD Fabril e Casa Benfica Alcochete.
Foi então que recebi o convite do coordenador de formação do Futebol Clube Barreirense para ajudar nos escalões de base do clube treinando a equipa de petizes (geração de 2005) e assim começou a minha nova etapa que dura até aos dias de hoje como treinador de futebol.
Como treinador tive passagens pelo FC Barreirense, Casa Benfica Barreiro (Escolinhas SL Benfica), CCD Brejos Azeitão e Olímpico Montijo, sempre ligado a gerações de atletas nascidos entre 2004 e 2006) culminando esta época com o aceitar do convite para o retorno do CRI ao futebol sénior completando assim enquanto treinador a passagem por todos os escalões de competição, só me faltava treinar uma equipa sénior.
- O que o levou a entrar neste projeto?
A entrada neste projeto CRI devesse principalmente ao desafio proposto pelo Alberto Lisboa que, com base no seu trabalho de parceria firmado com o Atlético Pernambucano e o CRI, numa vertente de potenciar a formação em contexto sénior, fez tudo para que eu estivesse aqui e após várias conversas, aliado ao eu ser daqui de Alhos Vedros, me “convenceu” a aceitar o comando deste Clube Centenário no seu regresso ao futebol sénior.
- Como foi o arranque e o processo de recrutamento?
Não foi fácil. O que estava previamente idealizado era que a base da equipa fosse a de Sub-22 e que depois conseguíssemos recrutar jogadores jovens, principalmente de primeiros anos de seniores para colmatar potenciais lacunas e formar um grupo muito jovem e com qualidade, capaz de competir no campeonato distrital da 2ª Divisão.
Por algum motivo que não sei dizer, nenhum dos atletas que constituíam a equipa de Sub-22 continuou no Clube e foi preciso começar tudo do zero, formar uma equipa sénior em 15 dias, pois a competição iria começar 2 semanas após o início da pré-época que ao mesmo tempo seria um período de captações. Durante este período tivemos a cada unidade de treino cerca de 50 atletas diários a pedir para ser observado o que se por um lado foi interessante ver tanta vontade em representar o CRI, mas muito difícil para conseguir trabalhar para começar a competir..
- Quais as principais dificuldades na participação na Taça A.F.S. J. Sousa Marques?
As dores normais de uma equipa a ser construída do zero. Ter de observar jogadores e ser obrigado a inscrever os que de alguma forma se destacaram um pouco mais para ter equipa para competir na Taça. Levou a algumas precipitações e até mesmo no critério de escolha pois para que de alguma forma cumpríssemos minimamente as normas da competição em termos de atletas inscritos e com formação local, causava uma dificuldade acrescida. Não conseguimos a tempo útil trabalhar processos coletivos fazendo tudo muito ao improviso, testando atletas e as posições que poderiam dar melhor resposta logo diretamente em competição.
- Qual o balanço da 1ª volta do CRI no campeonato distrital da 2ª divisão?
Em termos de resultados não são os que qualquer um que ande no futebol deseja e nós não somos exceção. Queríamos estar mais acima da classificação e sentimos que temos capacidades para isso, mas dadas as circunstancias que envolveram todo o processo, desde a dificuldade em inscrever jogadores dada a sua nacionalidade, as lesões que fomos tendo em jogadores que de alguma forma eram pedras importantes no processo que estávamos a desenvolver, não nos deixou estabilizar e foi complicado, mas com o trabalho de todos, acreditando que juntos iriamos crescer e melhorar e com o apoio da direção que continua a ajudar no que o grupo precisa, notamos uma evolução enorme enquanto equipa e deixa-nos otimistas para o futuro.
- E sobre as outras equipas, quais as favoritas à subida?
Nitidamente o Vitória é a equipa com as melhores condições para ser campeão distrital, mas este campeonato já nos mostrou que em todos os jogos pode surgir uma surpresa e causar dúvidas no desfecho final do campeonato. O Lagameças e o Cova da Piedade podem muito bem intrometer-se nesta discussão e levar alguma incerteza até final.
- Qual a sua opinião sobre este campeonato no geral?
E um campeonato interessante que tem as ditas 2 ou 3 equipas favoritas e que depois prima pelo equilíbrio das equipas sendo que muitas vezes os desfechos finais dos jogos são dados por pormenores ligados a uma maior maturidade de equipas constituídas por atletas mais maduras em contraste com equipas como a nossa que é constituída por 90% atletas de primeiro ano sénior.
- O que perspetiva até final da temporada? Expectativas.
A minha perspetiva até ao final da temporada e que a equipa continue a crescer enquanto grupo, ganhando mais maturidade e ficando mais pronta para encarar uma competição sénior que e bastante diferente do que era competir nos Sub-19.
As expetativas são tentar amealhar o máximo de pontos e subir o que nos for possível na classificação geral continuando a cimentar os nossos processos tanto individuais como coletivos.
- Como tem sido ao nível condições oferecidas pelo Clube?
O Clube está também numa adaptação ao regresso dos Seniores. Acho que tem sido feito o possível para que nada falte aos atletas e a nos treinadores. Tudo o que foi prometido ao grupo tem sido cumprido. Algumas coisas ainda estão a ser trabalhadas e com toda a certeza no futuro será ainda mais apelativo representar esta Instituição com tudo o que esta a ser feito no melhoramento das condições físicas e das instalações que o Parque Desportivo terá para oferecer a todos os atletas que diariamente aqui praticam a modalidade.
- Um comentário final.
Este meu ingresso no CRI tem sido um desafio enorme a muitos níveis, pela primeira vez a comandar uma equipa sénior, num contexto muito especial e num Clube Centenário que resolveu quase 30 anos depois voltar a juntar a Vila de Alhos Vedros ao domingo à tarde a ir ao futebol. É um prazer fazer parte deste regresso e de poder juntar jovens jogadores, alguns que tinham ou estavam a pensar desistir da modalidade, atletas que vi iniciar com 5 ou 6 anos de idade e que agora já são SENIORES.
Só quando passamos por isto percebemos a grande diferença que existe entre a formação e o contexto sénior a todos os níveis, e impossível comparar as duas realidades e agora percebo muita coisa que até aqui não nem sequer equacionava ser como na realidade o é.
Mais uma vez agradeço a confiança depositada em mim por todos os envolvidos (direção, sócios e adeptos) e pela forma como me tem tratado nos dias bons e menos bons e espero poder continuar a contribuir para o crescimento e o estabelecer dos Seniores no panorama competitivo no futebol distrital.
Não posso nunca deixar de agradecer à minha família por continuar como sempre a apoiar e estar a meu lado neste meu compromisso retirando muitas vezes tempo que seria para eles em prol do desporto que tanto gosto. Aos atletas agradeço o empenho de todos e peço para continuarem a acreditar em tudo o que está envolvido, continuarem e aumentarem ainda mais a confiança neles e nos colegas pois só assim pode ser possível alcançar os objetivos a curto e longo prazo.
Ainda temos muito caminho a percorrer e vamos sem medos nem receios atrás do que acreditamos ser nosso.
Até ao dia de hoje só posso estar grato por tudo o que o Futebol me tem dado em termos pessoais e desportivos.
Vamos por mais….